Como
havíamos relatado na penúltima publicação, foi constatado a presença de ácaro
em uma das plantas de pimentão. A princípio o grupo achou que os sintomas eram
resultado de uma contaminação por vírus que poderia ter sido transmitido pela
mosca branca (Bemisia tabaci) que
estava presente na área. No entanto após uma avaliação mais detalhada do
material, percebemos a presença de ácaros na face abaxial das folhas
encarquilhadas. Devido ao pequeno tamanho
(inferior à 0,5 mm de comprimento), os ácaros
não são notados inicialmente em culturas, sendo detectados normalmente apenas quando
as plantas apresentam sintomas de danos. Devido ao baixo conhecimento do grupo
quanto ao ataques e dispersão dos ácaros, além do não conhecimento imediato de
algum produto acaricida registrado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
– MAPA, o grupo resolveu pesquisar a respeito do assunto e tomar as medidas cabíveis
na semana seguinte.
Desta forma, na semana seguinte o grupo realizou
do “roguing”, ou seja, a planta infestada foi arrancada e retirada para longe da
área da estufa, além disso, foi realizamos a aplicação de Abamex, produto acaricida a base de abamectina. No
entanto, devido a essa ação ter sido realizada apenas uma semana após à
primeira constatação dos sintomas, na semana seguinte não havia mais apenas uma
planta com sintomas, os mesmos já apareciam de forma sutil em outras plantas na
área. É sabido no meio cientifico que os ácaros são distribuídos na área pela
mosca branca, na qual ficam aderidos à cera presente no exoesqueleto deste, e
assim sendo dispersos para as demais plantas. Além disso, os ácaros pedem ser
transmitidos de uma planta para outra pelo vento e pelo contato de uma planta
com a outra dentro de uma linha de plantio. No entanto, é mais provável que o principal
dispersor desta praga na área de cultivo tenho sido os próprios membros do
grupo, uma vez que, estão sendo realizadas avaliações em algumas plantas
especificas (plantas cativas), tais como, contagem de número de folhas por
planta, número de nós, comprimento de entrenós e altura da planta, e estas
avaliações continuaram sendo realizadas semanalmente. A suspeita foi dada,
devido ao fato de que os ataques pelos ácaros ocorreram com maior intensidade em
plantas próximas à planta cativa, ou seja, ao realizarmos as avaliações, ao
mesmo tempo estávamos dispersando a praga no ambiente de cultivo.
Assim, confirmamos também a grande importância em se evitar a
manipulação das plantas dentro do cultivo, uma vez que podemos ser importantes
agentes dispersores de pragas e doenças dentro da área.
Os
fatores climáticos como elevada temperatura, baixo teor de umidade do ar e
baixa precipitação atmosférica também favorecem o aumento da população destes
artrópodes a níveis elevados, que podem prejudicar o desenvolvimento das
plantas. Por serem muito pequenos, difíceis de se ver a olho nu, uma das
maneiras de se poder identificar a espécie é através de descrição da
sintomatologia dos danos. Abaixo estão apresentados os principais ácaros presentes
no cultivo do pimentão.
Ácaro branco
(Acarina:Tarsonemidae) Polyphagotarsonemus
latus (Banks)
O
ciclo completo de P. latus é curto e
dura, em média, de 3 a 5 dias.
PREJUÍZO:
Localiza-se preferencialmente na parte apical das plantas, nos brotos
terminais. Os adultos encontram-se no inferior das folhas. Seus danos tornam as
folhas coriáceas, com os bordos das folhas recurvados para baixo e o
enrolamento dos folíolos, acompanhado de paralisação do crescimento das gemas
terminais, além de coloração bronzeada. Se a infestação é alta, ocorre também
floração incipiente e aborte de botões florais. Quando o dano se incrementa, a
planta não se desenvolve, ficando pequena; a floração é inibida e, em caso de
existir frutos, estes se deformam. Finalmente a planta poderia apresentar morte
descendente.
Ácaro vermelho
(Acarina:Tetranychidae) Tetranychus marianae
(Mc G.)
PREJUÍZO:
Este ácaro mede cerca de 0,5 mm e tem a cor vermelha, muito intensa, que o
distingue facilmente de outros ácaros. Apresenta duas manchas escuras próxima à
cabeça. Localiza-se na face inferior das folhas independentemente da idade
destas, onde provoca clorose generalizada das folhas, sendo que as nervuras
mantêm-se mais verdes, seguidas de um recobrimento de teia, onde normalmente
são depositados os ovos. Quando o ataque é muito 265 intenso, as folhas chegam
a secar e cair podendo provocar morte da planta.
Ácaro rajado
(Acarina:Tetranychidae) Tetranychus
urticae (Koch)
PREJUÍZO:
Localiza-se na face inferior das folhas independentemente da idade destas. Nas
infestações fracas, aparecem nas folhas pequenas manchas descoradas, produzidas
pelas picadas, que contrasta com o verde da folha. A medida que se intensifica
a infestação, as manchas se unem, ficando amareladas (clorose) e as folhas mais
velhas tornam-se ressecadas ou completamente secas. Além da folha, podem
infestar as flores, onde se desenvolvem as colônias com abundante teia, sobre a
qual são depositados os ovos. Quando alimentam-se de frutos, estes perdem o
vigor. Nas infestações mais intensas, a teia pode recobrir toda a planta.
Micro ácaro
ou ácaro do bronzeamento do tomateiro - Aculops lycopersici (Massee) (Acari:
Eriophyidae)
Características
- Ácaro "vermiforme" de coloração "rósea"
Injúrias
- Provocam "bronzeamento" e secamento das folhas principalmente na
extremidade das plantas. - Frutos mal formados com pele áspera.
Controle:
Esses
ácaros devem ser amostrados no terço mediano das plantas, coletando-se uma
folha por planta, avaliando-se cinco plantas por ponto amostral, em um total de
20 pontos de amostragem por talhão, totalizando 100 plantas. Deve-se avaliar a
presença de adultos e ninfas, em 1 cm2 de área do limbo foliar na
face inferior da folha, com auxílio de uma lupa de aumento de 10X. O controle
dessas espécies deve ser realizado quando forem observados, em média, 10 ou
mais ácaros ou ovos por folha.
Para
o controle das espécies de ácaros-praga citadas anteriormente, diversos métodos
são preconizados, uma vez que o uso do controle químico para tal finalidade
apresenta grande limitação em razão da escassez de acaricidas registrados para
a cultura.
Portanto,
táticas de controle cultural (uso de sementes sadias; uso de variedades ou
híbridos de ciclo curto; produção de mudas em locais protegidos; isolamento de
talhões; adubação equilibrada; eliminação de daninhas e de hospedeiros
silvestres; manejo adequado da irrigação; colheita antecipada; destruição de
restos de culturas, por meio da roçada baixa e incorporação no solo, além da
rotação de culturas), físico e mecânico (implantação de barreiras vivas e uso
da irrigação por aspersão para controle mecânico dos ácaros), de resistência de
plantas a insetos (uso de variedades ou de híbridos com resistência ou
tolerância) e de controles alternativo e biológico devem ser utilizadas dentro
de um programa de manejo integrado de pragas, de forma a se obter alta
eficiência no controle desses organismos na cultura da pimenta.
De
forma complementar às demais táticas de controle descritas anteriormente,
pode-se efetuar o controle desses ácaros-praga por meio da pulverização de
calda Viçosa (P. latus), de calda
sulfocálcica (B. phoenicis, P. talus
e T. urticae), de óleo mineral, de
óleo vegetal emulsionável ou de inseticida à base de extrato de sementes de nim
(P. latus, T. ludeni e T. urticae), na concentração de 0,5%.
O
uso de predadores da família Phytoseiidae também é considerado uma alternativa
viável, uma vez que essa tática tem sido empregada com sucesso em outras
culturas, como a macieira, no Sul do país. Das espécies mais comumente
encontradas, destacam-se Neoseiulus
californicus (McGregor) e Phytoseiulus
macropilis (Banks) (Acari: Phytoseiidae), que poderão ser criados e
utilizados através de liberações inundativas nos cultivos de pimenteira, ou
mesmo comprado junto a Empresas especializadas. Considerando a presença desses
ácaros predadores nos cultivos, é importante, quando for necessário o uso de
alguns fungicidas recomendados para o controle de doenças na cultura, por
exemplo, dar preferência àqueles seletivos, no sentido de preservar a fauna
benéfica.